• Christine Salomão

    A jornalista Christine Salomão – sommelière de cerveja – conta suas experiências nas principais cervejarias brasileiras e do mundo. Saiba mais

A Sierra Nevada é uma marca referência no estilo American Pale Ale. Mas também não é para menos, a Cervejaria – fundada em 1980 – foi uma das responsáveis pela revolução da cerveja artesanal nos Estados Unidos e até hoje permanece entre as fabricantes independentes.

O BJCP 2015 (Beer Judge Certification Programa) – que é um dos Guias de Estilos mais usados atualmente para orientar como deve ser cada estilo de cerveja e, principalmente, dar parâmetros aos juízes em suas avaliações durante os concursos – cita a Sierra Nevada Pale Ale como exemplo comercial neste estilo ao lado de rótulos consagrados, entre eles, Firestone Walker Pale 31 e Stone Pale Ale.

Estive em Nova York em fevereiro passado e comprei várias latinhas da Sierra Nevada Pale Ale – lá você encontra facilmente em bares e lojas de cervejas artesanais, a um custo de US$ 4,5 cada – e realmente o rótulo segue todas as características deste estilo citadas pelo BJCP .

Essa foi a segunda cerveja criada por Ken Grossman, fundador da Sierra Nevada Brewing Co, na Califórnia (EUA), e certamente ele nem imaginava que a Pale Ale se tornaria um dos ícones do mercado de cerveja artesanal estadunidense (a primeira breja da Cervejaria foi uma Stout).

Na foto acima, estou bebendo uma Sierra Nevada no Spritzenhaus 33 – um biergarten super bacana que fica no bairro Williamsburg, distrito do Brooklyn, em NY

Sierra Nevada Pale Ale: exemplo comercial BJCP 2015 (18B)

Abaixo, confira o que diz o BJCP 2015 sobre o estilo American Pale Ale.

Mas vale ressaltar que o BJCP é uma organização sem fins lucrativos formada em 1985 nos Estados Unidos e você pode ler na íntegra em inglês o BJCP 2015.

Sierra Nevada Pale Ale

 

A transcrição abaixo da American Pale Ale é uma tradução da língua inglesa para o português disponível no Brasil.

Impressão Geral: Uma clara, refrescante e lupulada ale, contudo com malte de apoio suficiente para fazer uma cerveja equilibrada e de drinkability. A presença de lúpulos limpos pode refletir clássicos ou modernos varietais de lúpulos americanos ou do Novo Mundo com uma vasta gama de características. Uma intensidade média de lúpulos transmitido por cervejas artesanais claras americano está presente, geralmente balanceada para ser mais acessível que as modernas American IPAs.

Aroma: Moderado a forte aroma de varietais de lúpulos americanos ou do Novo Mundo, com uma vasta gama de possíveis características, incluindo cítricos, floral, pinho, resina, especiarias, frutas tropicais, frutas de caroço,  berries,  ou melão. Nenhuma dessas características específicas são necessárias, mas o lúpulo deve ser aparente. Baixo a moderado maltado dá sustentação à apresentação dos lúpulos e pode mostrar, opcionalmente, pequenas quantidades de caráter de maltes especiais (de pão, torradas, biscoito, caramelo). Ésteres frutados variam de moderada a nenhum. Dry hopping (se usado) pode adicionar notas de grama verde, embora este caráter não deve ser excessivo.

Aparência: Dourado claro a âmbar claro. Moderadamente volumosa espuma branca para bege claro, com boa retenção. Geralmente bastante límpida, embora as versões com dry-hopped podem ser um pouco turvas.

Sabor: Moderado a alto sabor de lúpulos, geralmente indicando um caráter de lúpulos americanos ou Novo Mundo (cítrico, floral, pinho, resinoso, picante, frutas tropicais, frutas de caroço, berries, melão, etc.). Baixo a moderado caráter granulado-maltado limpo dá sustentação à apresentação dos lúpulos, e pode mostrar, opcionalmente, pequenas quantidades de caráter de maltes especiais (de pão, torradas, biscoito). O balanço é normalmente em direção final aos lúpulos e amargor, mas a presença de malte presença deve ser sólida, não perdida ao fundo. Os sabores de caramelo são muitas vezes ausente ou bastante restrita (mas são aceitáveis, desde que eles não colidam e atenuem a presença dos lúpulos). Ésteres frutados de levedura podem ser moderado a nenhum, embora muitos varietais de lúpulos são bastante frutados. Moderado a alto amargor de lúpulo com um final semi-seco a seco. Sabor de lúpulo e de amargor, muitas vezes permanece no final, mas o retrogosto geralmente deve ser limpo e sem aspereza (harsh). Dry hopping (se usado) pode adicionar notas de grama cortada, embora este caráter não deve ser excessivo.

Sensação de Boca: Corpo médio-baixo a médio. Moderada a alta carbonatação. Final geralmente macio, sem adstringência e aspereza.

Comentários: Novas variedades de lúpulo e métodos de uso continuam a ser desenvolvidos. Os juízes devem permitir características de lúpulos modernos neste estilo, bem como variedades clássicas. A American Pale Ale tornou-se um estilo de cerveja artesanal internacional, com adaptações locais surgindo em muitos países com um crescimento vertiginoso do mercado de cerveja artesanal. Estilos lupulados podem variar desde a clássica grande adição de amargor  aos exemplares mais modernos com retardada explosão da lupulagem; todas as variações são permissíveis.

Estatísticas Vitais

OG: 1.045 – 1060 (a quantidade inicial de “açúcar” no mosto)

FG: 1.1010 – 1.015 (quantidade de “açúcar” que permanece na cerveja após a fermentação do mosto)

IBUs: 30 – 50 (amargor)

SRM: 5 – 10 (cor)

ABV: 4,5 – 6,2% (teor alcoólico) – a Sierra Nevada tem 5,6%

História: Escola Americana

A Escola Cervejeira Americana se destaca do “Velho Mundo” pela utilização de mais lúpulo + malte + álcool.  Essa ousadia se faz presente desde antes da colonização estadunidense pelos ingleses que se depararam com várias tribos nativas produzindo uma bebida fermentada a partir de ingredientes locais, especialmente o milho.

Mas a Escola Cervejeira inglesa influenciou e dominou a produção cervejeira nos Estados Unidos até mesmo após a Guerra da Independência Americana. Nesta época, os ingleses bloquearam os portos dos EUA impedindo o comércio de insumos e com o fim do conflito o estilo porter, além das real ales, continuavam a predominar no país.

Já em 1840, um novo fermento trazido da Baviera por John Wagner mudou o cenário cervejeiro estadunidense. Foi possível produzir uma cerveja de corpo leve e aparência dourada – a lager – que logo caiu no gosto popular.

Foto acima: divulgação do Documentário “Prohibition”, que narra a história da Lei Seca nos EUA

Lei Seca – 1920

Mas tempos difíceis estavam por vir: a Lei Seca – que proibia a fabricação, venda, importação, exportação e transporte de bebidas alcoólica em todo o País – se estabeleceu em 1920 e durou até 1935. Neste período, o número de cervejarias nos Estados Unidos reduziu de 1.179 para 703. E como se não bastasse, logo veio a Segunda Guerra Mundial e tornou ainda mais complicada a sobrevivência das Cervejarias.

Apenas cervejarias de grande porte, entre elas, Anheuser-Bush, Miller e Coors, resistiram a tanta pressão. Isso porque contavam com imensas estruturas de distribuição por todo o país – fator determinante para o fortalecimento pós-guerra. Além disso, fabricavam cervejas lager, super leves e repletas de adjuntos – como milho e arroz – e com pouco atributos sensoriais. Vale ressaltar que até os dias atuais essas empresas dominam o mercado estadunidense.

Em 1976, com a fundação da New Albion Brewery – na Califórnia – , foi dada a largada para a chamada “revolução” artesanal. Isso fez com que cervejeiros de todo o País se animassem a investir na abertura de pequenas empresas. E assim renascia a cultura cervejeira norte-americana.

A experimentação se tornou a palavra de ordem destes cervejeiros que produzem as brejas ditas “extremas”: cervejas que não seguem padrões. Tendo também como aliados o desenvolvimento de lúpulos e leveduras próprios, além de técnicas cervejeiras pioneiras.

Quer saber mais sobre Cervejarias responsáveis pela revolução da cerveja artesanal nos Estados Unidos? Leia a matéria: Brooklyn Brewery: tour na “Casa” de Garrett Oliver.

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